terça-feira, 4 de novembro de 2008

O rei que não sabia ler

O Rei que não sabia ler
Autor: Marcelo Braga

Personagens:

- Rei Chuxudo
- Guarda Pastelão
- Guarda Batata
- Bobo da corte
- Maria Chique-Chique


Cena 1

Local - no palácio do rei Choxudo.
O rei sentado em seu trono e ao seu lado o guarda Pastelão.

Pastelão
Senhor, meu grandioso Rei. Estou observando a vossa majestade aí... pousada à um bom tempo, sem... indagar sequer uma palavra. Suponho até que Vossa majestade que esteja com uma... pequeníssima tristeza em seu coração. O senhor não gostaria que eu fosse lá chamar o... bobo da corte para lhe fazer sorrir?

Rei
Guarda Pastelão, eu estou um pouco entediado, sim, pois neste reino não acontece nada de novo, e já faz um tempo. É sempre aquela rotina. Só mesmo o bobo para quebrar esse silêncio todo. (Grita) Vá chamar o bobo correndo!!

Quando o guarda Pastelão está preste a sair, entra um homem magro, com suas roupas velhas e rasgadas. Correndo e se jogando aos pés do rei. E atrás dele, entra o guarda Batata.

Batata
Volte aqui seu cão sarnento!! Não pode entrar aqui!! Rei...

Homem
Vossa majestade, meu adorável rei Choxudo, a quem todo reino de Maxlândia fica aos seus pés. Preciso só de um segundo para lhe falar.

Batata
Deixe disso, seu macaco!! O rei é muito ocupado, não tem tempo pra perder com você!!

Homem
Por favor meu rei!! Por favor! Só um minutinho!

Rei
Era um segundo. Agora é um minuto! Se ficar aqui mais um pouco vai me pedir uma hora, e depois quem sabe, vai querer me ocupar o dia todo!!
Pastelão
Daqui a pouco pedirá a semana toda...

Batata
Ou o mês...

Pastelão
O ano todo. Incluindo feriados e finais de semanas...

Batata
A eternidade... largue o pé do rei, largue o pé do rei e volte para a sua casa, ô infeliz!!

O homem
Pelo amor de Deus meu rei. Se não fosse tão importante eu não estaria aqui, agarrado aos seus pés.

Pastelão
Larga o rei... larga o rei!

Batata
Deixa de ser besta homem, vai acabar sendo preso no porão!!

Homem
Meu senhor!... por favor!... pela minha família que tanto o venera...

Rei
Está bem! Está bem! Mas pelo amor de minha coroa, pare com isso!! Você vai acabar tirando as minhas calças!!! Tire as suas mãos sujas de mim!

Homem
Me desculpe, majestade (procura limpar a roupa do rei)

Rei
Saí! Saí! Deixa! Deixa! Vai pra trás! (o homem vai). Agora me diga homem. O que tanto você quer comigo?

Homem
Meu bom rei. Estou aqui pela minha família: Minha mulher Lili, meus filhos: Jajá, Jejé, Jiji, Jojó e...

Rei
Jujú?!

Homem
Não! Rodrigues Rodolfo Alvarenga Gonçalez de Bragança. Ah! Tem o Tom e o Jerry...

Rei
É um gato e um rato?

Homem
Não! É meu cachorro e o meu burro. Tem também o meu papagaio Oligofredo e...

Rei
Desembucha logo, homem!!

Homem
Nós todos estamos passando fome, e não temos nem dinheiro sequer para fazer compras.


Rei
Mas tem dinheiro para pagar os impostos obrigatórios do reino?

Homem
Pois é, meu justíssimo rei. O pouco dinheiro que nós temos pra comprar comida, está indo todo para o Senhor, majestade. Para os impostos.

Rei
Mas é a lei!!

Batata
É a lei!!

Pastelão
É a lei!!

Rei
Você primeiro tem que pagar a mim! O que sobrar... aí vocês compram a comida de vocês. Também umas roupinhas...

Batata
Sempre foi assim!

Pastelão
E assim será!

Homem
Mas... Senhor, o que acontece é que nunca sobra nada para comprar comida, muito menos para comprar roupa.

Batata
Atrevido!! Olhe como se dirige ao rei!

Pastelão
Você não tem medo não, é?!

Rei
Homem, e o que você quer que eu faça?

Homem
Gostaria que Vossa majestade, já que é tão rico, farto em alimentação... que... deixasse que eu não pagasse o imposto. Para poder dar o que comer a minha mulher Juju, meus filhos: Izabela, Clarisse, Alan e Rodrigues. Ao meu cachorro Rox, meu burro Auré...

Rei
Chega!! Chega, Já sei!! (pensativo) Você não me pagaria e compraria a comida pra vocês...

Homem
Pelo menos uma vezinha só.

Rei
E eu?

Homem
Hã??...

Batata
E o rei, malandrão?

Pastelão
É! E o rei, malandrão?

Homem
Mas, meu misericordioso rei, Vossa majestade já possui muito dinheiro, e com ele, compra muita comida. Eu não.

Batata
(repreendendo) Homem...

Rei
A resposta para você é...

Batata
É?...

Pastelão
É?...

Rei
É...

Homem
(esperançoso) É?...

Batata
É?...

Pastelão
É?...

Rei
É, não!!


Homem
(surpreso e decepcionado) Não??

Batata
É isso aí, meu senhor, arrebentou!!

Pastelão
Vossa majestade foi muito feliz na sua decisão!!

Batata
O rei sabe o que faz!

Pastelão
Viva o rei!

Batata e Pastelão
Viva! Viva! Viva! Up! Up! Up!!

Rei
Calados os dois! Parecem dois... retardados.

Pastelão
Só estávamos festejando a sábia decisão!

Rei
Eu não preciso disso! E quanto a você, homem, vai me dar todo o dinheiro para pagar adiantado o imposto e com multa.

Homem
Adiantado e com multa? Isso não existe! E eu só tenho isso...

Rei
(desprezo) Isso é tudo o que tem? Dei-me logo!! Dei-me logo!!

Homem
Mas e minha mulher Juju, e meu filhinhos: Izabela, Clarisse, Alan e Rodrigues. Mas o...

Batata
... meu cachorro Rox...

Pastelão
... meu burro Aurélio...


Batata
... meu papagaio...

Rei
... Oligofredo... (grita) Chega!! Calem a boca!! Eu já decorei isso também! Mas a decisão de um rei é: sim, sim! E não, não! E ponto final! (Ordenando) Guardas, peguem o dinheiro e o lancem na prisão, por não ter o dinheiro todo, e nem a multa.

Os guardas lhe tomam o pouco dinheiro que tem, passam para o rei e o levam para fora.

O rei Choxudo se tornava cada vez mais rico a custa dos homens pobres do reino de Maxlândia, que em muitos casos, pagavam o imposto ao rei e não conseguiam nem ao menos comprar comida para a família, e muito menos... comprar roupas.


Cena 2
No corredor do palácio, Maria Chique-chique entra com um livro na mão, lendo e rindo muito.

Mª Chique-chique
Ôxente, esse livro de piadas que achei no chão do corredor é muito legal. Puxa vida, nunca pensei que iria encontrar um livro desses no chão do palácio. De quem será essa bexiga?

Entra o bobo

Bobo
Oi, Mª Chique-chique.

Mª Chique-chique
Oi, bobo.

Bobo
Percebo que você está muito feliz. E para aumentar mais a sua alegria... você quer que eu te conte a minha mais nova piada?

Mª Chique-chique
Não precisa não, Bobo.

Bobo
Não??

Mª Chique-chique
Eu encontrei este livro de piadas no chão e...

Bobo
(surpreso e preocupado)
O livro?!...

Mª Chique-chique
É!... o livro. Eu achei a pouquinho, e estou me divertindo as pampas com ele. É legal demais. Mas mesmo assim, obrigado, Bobo.

Bobo
(Vagamente) Não há de que, Mª Chique-chique.

Mª Chique-chique
Eu até gostaria de saber quem é o dono do livro de piadas, não sabe?!. Para que eu possa devolvê-lo. Bobo, este livro é seu? Se for, você me empresta para que eu acabar de lê-lo?

Bobo
Hã? O livro? (à parte) Este livro é meu, mas ninguém pode saber que as piadas que conto são tiradas de dentro dele.

Mª Chique-chique
E então Homem, é teu?

Bobo
Se é meu?... o livro?... não, não, não, não. Ele deve ser do rei. Você bem sabe, que o rei choxudo adora piadas, e volta e meia me pede para ir ao seu encontro só para lhe contar novas anedotas e velhas histórias...

Entra o guarda Pastelão

Pastelão
Bobo, Vossa majestade, o rei Choxudo, necessita da sua presença para lhe fornecer agrado e restituir o ânimo.

Bobo
Ein?!...

Pastelão
Pra você contar uma piada pra ele!

Bobo
Há... tá... (para Mª Chique-chique) Está vendo?!

Mª Chique-chique
É verdade...

Bobo
Mas não se preocupe, Mª Chique-chique (toma-lhe o livro), eu entrego o livro ao rei. (à parte) Eu vou deixar este meu livro de piadas bem guardadinho e dar um fim nessa história toda.

Quando o guarda Pastelão e o Bobo estão quase saindo, entra o rei.
Pastelão
(sem ainda ver o rei) Então Bobo, o rei o aguarda.

Bobo
(Abraça bem o livro) Há, sim... vamos...

Rei
Não precisa, não, guarda Pastelão. Eu já estava cansado mesmo de ficar sentado o tempo todo naquele trono. Então, resolvi vir pessoalmente.

Bobo
(surpreso mais uma vez) O rei?!...

Pastelão
(Ao rei) Vossa majestade deseja mais alguma coisa?

Rei
Sim.

Pastelão
O que senhor?

Rei
(Gritando) Que você sai daqui! Vai! Vai! Sai! Sai!

Pastelão sai

Rei
Como tem passado Mª Chique-chique?

Mª Chique-chique
Muito bem, majestade. E o Senhor, como tem passado?

Rei
Um pouco entediado. Vim a procura do Bobo, para me fazer sorrir um pouco.

Mª Chique-chique
Vossa majestade quer que eu também saia?

Rei
Não! Você pode ficar, Mª Chique-chique. Sua companhia é muito agradável, além de você ser uma bela senhorita.

Mª Chique-chique
Obrigada, meu rei.


Bobo
(Saindo de fininho) Majestade... então eu saio...

Rei
Mas... mas... De jeito nenhum!! Se eu vim aqui pessoalmente, justamente a sua procura! Por acaso, não vai haver piada para mim? É isso?

Bobo
Não! Não é nada disso, majestade. É que... é que... eu tenho que sair, sabe por que? Porque... porque... eu ultimamente ando muito esquisito.

Rei
Esquisito? Como?

Bobo
Eu tenho andado meio... esquecido.

Rei
E por que você quer sair?

Bobo
Por que?... para ir a procura do Bobo da corte para Vossa majestade. (vira-se como se estivesse procurando alguém, e aproveita depois para dar uma olhadinha no livro).

Rei
Mas você é o Bobo da corte! (À Mª Chique-chique) Ele não é o Bobo da corte?

Mª Chique-chique
Claro que é, meu rei.

Rei
Bobo. Você é o Bobo que você próprio está procurando.

Bobo
Eu?

Rei
Sim! Você!

Bobo
(Virando-se de volta) Pois, sim! Me achei! Eu sou o Bobo do rei, e tenho que contar-lhe uma piada. Uma piada que acabei de inventar.

Rei
(Animando-se) Então conta. Estou preparado.


Bobo
Lá vai: Dois Alemães: Manoel e Joaquim. Um homem chegou para o outro e resolver fazer uma aposta: "Você que ver como consigo morder o meu olho direito?" O outro pensou: "O olho é bem longe da boca, eheheh... dinheiro facil." Então após apostarem 500 pratas, o homem pegou o olho direito que era de vidro e levou até a boca, dando uma leve mordidinha. ganhou a aposta! Mas resolveu continuar: "Vamos apostar como consigo morder o olho esquerdo?" O outro homem pensou: "Dois olhos de vidros? Impossível!" Então resolveram apostar milzinho. Após apostarem, o homem retirou a dentadura e a levou até o olho esquerdo,..

Rei
(Caindo na gargalhada) Essa é ótima! Tinha quer ser um alemão mesmo!! ... mordeu seus dois próprios olhos... (mais gargalhada)

Mª Chique-chique
(Também sorrindo muito) Essa eu ainda não conhecia.

Bobo
Agora tenho que ir, Vossa majestade. Se me permite...

Rei
(Entre risos) Vai ainda procurar você mesmo pelo palácio?

Bobo
Não senhor. Pois o senhor mesmo me disse que eu sou eu.

Rei
Eu é que não seria (E continua rindo).

Bobo
Então vai mais uma, vamos ver se Vossa majestade descobre: Se eu sou eu, e você é você. Quem é você?

Rei
(pensativo) Se eu sou eu... e você é você, quem é você?...

Bobo
Isso mesmo, majestade. Se eu sou eu, e você é você, que é você?

Rei
Já sei! Você!!

Bobo
Acertou de primeira! Muito bem!


Mª Chique-chique
Ôgenti! Que budéga é essa? Não entendi nadinha, não sabe?

Rei
Eu vou te explicar. Bom... preste atenção. Se eu sou Boi, e você, uma vaca...

Mª Chique-chique
Ôgenti, meu rei!! Eu não sou vaca não!!

Rei
É apenas um exemplo, para que a senhorita possa entender. Podia ser cabrita, pata, macaca...

Mª Chique-chique
E por que não, tigresa, leoa, gatona?

Rei
É só um exemplo. Se eu sou boi e você é vaca. Quem é você?

Mª Chique-chique
(insatisfeita) Uma vaca.

Rei
(rindo) Então?! Só que ao invés de boi, é eu. E ao invés de vaca é você. Entendeu?

Mª Chique-chique
Entendi, mas não gostei não.

Bobo
E eu sendo eu, já vou indo.

Rei
Claro! Claro! Pode ir Bobo!

Mª Chique-chique
Um instante, Bobo.

Bobo
(A parte) Ai, ai, ai... tomara que não seja o que estou pensando.

Mª Chique-chique
Senhor, meu-rei, eu achei aqui no palácio, um livro de piadas. (toma o livro do Bobo) Este livro aqui. Eu quero saber se é do Senhor.

Rei
Livro? Esse livro?

Mª Chique-chique
Sim. Este aqui mesmo.

Rei
(A parte) Mas eu não sei ler. Só que ninguém pode saber disso. Afinal, todos sabem ler e neste palácio, só eu que não sei... não sei nem escrever.

Mª Chique-chique
Meu rei, o que foi que o Senhor falou, aí?

Rei
Hã?... Hã?... (entrega o livro de volta para Mª Chique-chique) Este livro é sobre o que mesmo, ein?!

Bobo
Ai, ai, ai... É... É... sobre coisas... bobas.

Mª Chique-chique
Está escrito aqui na capa (e passa o livro para o Rei)

Bobo
Ai, ai, ai, é agora... Tô frito!

Rei
(Olha a capa e folheia, começa a ficar confuso e com medo de não conseguir enganar...) Mas... eu ordeno que você me fale!! (E joga o livro para Mª Chique-chique).

Bobo
Eu leio!!

Mª Chique-chique
Deixe que mesma leio. É um livro sobre piadas meu rei.

Rei
(Sorridente) Há, é?! Anedotas, piadas?

Mª Chique-chique
Sim, majestade. Igual as piadas que o bobo conta...

Bobo
Não é não, não é não...

Mª Chique-chique
É cada uma sensacional! Não dá para parar de tanto rir.

Rei
(Interessado) É? É bom mesmo? (Serio) Mas... não é meu não! Não seria do Bobo?
Bobo
(Olha para Mª Chique-chique e depois para o rei) É sim! É meu! Eu... me lembrei, incrível, né?!

Mª Chique-chique
Mas você havia me dito que não era seu! Que história é essa agora?

Rei
Você está mentindo? Você está querendo roubar o livro de alguém, Bobo? Você está querendo me enganar, Bobo?

Bobo
Eu estou meio esquisito mesmo. Eu já falei pro senhor.

Rei
(Decisivo) Este livro é seu ou não é?

Bobo
Não! Não! Não senhor, senhor! Nunca vi esse livro na minha vida. Nem quero ver! (Toma o livro de Mª Chique-chique) Se o senhor quiser, eu jogo esse livro fora, majestade. (vai saindo) Eu jogo na primeira lixeira que encontrar...

Rei
Espere um pouco, Bobo! Você está muito nervoso! Parece que está com culpa no cartório.

Bobo
Que é isso, majestade...

Rei
(Grita) Guarda Pastelão!!

Entra o guarda Batata
Pois não, majestade.

Entra o guarda Pastelão
(para o Batata) Não é você não, idiota, sou eu.

Sai o guarda Batata.

Pastelão
Pois não, majestade?

Rei
Estou pensando... guarda, pegue esse livro do Bobo, e abra e leia uma piada pra mim.



Pastelão lhe obedece, toma o livro do Bobo e começa a ler

Pastelão
Dois alemães: Manoel e Joaquim. Um homem chegou para o outro e perguntou: "Vamos fazer uma aposta de como eu consigo morder o meu olho direito?" O outro homem olhou bem e topou a idéia, pois pensou: "o olho está bem longe da boca, eheheh..." Então resolveram apostar 500 pratas. Após a aposta, o homem retirou o olho direito, pois era de vidro e levou até a boca, e deu uma leve mordidinha. Ganhou a aposta! Mas não termina aí, ele então disse ao apostador perdedor: "Vamos apostar milzinho como consigo morder agora o olho esquerdo?" O outro homem pensou: "Não é possível que ele tenha dois olhos de vidro..." e resolveu apostar milzinho. Após separem seus dinheiros, o homem retirou a dentadura e levou até o olho esquerdo, Ganhando mais uma vez a aposta!"

Só o guarda Pastelão cai na gargalhada, o restante fica sério.

Bobo
Que coincidência... não é mesmo?... É tão difícil quanto um raio cair duas vezes no mesmo lugar...

Rei
Guarda Pastelão, leia outra!

Pastelão
Sim Majestade! Responda esta: se eu sou eu, e você é você, que é você?

Rei
Eu sabia! Eu sabia!

Mª Chique-chique
Ôgenti, já esqueceu? Não foi o senhor mesmo que me explicou?

Rei
Não é nada disso! Esse livro é do Bobo. Ele está enganando o próprio rei!

Mª Chique-chique
Bobo?

Rei
Essas duas piadas. Ele falou que eram dele, mas na verdade não eram, ele havia retirado do livro. Que era dele.

Mª Chique-chique
Oh... caramba. Era dele ou não era dele? Me explica que nem o senhor me explicou, o boi e a vaca, sabe?...

Rei
Bobo, você mentiu inúmeras vezes para o seu rei.
Bobo
Mas o senhor riu um bocado.

Rei
Ri, porque não sabia que estava sendo enganado. (Para Mª Chique-chique) Ele lia a piada no livro e depois vinha me contar, dizendo que era dele.

Mª Chique-chique
Agora entendi. Bobo, que coisa feia.

Pastelão
Majestade. Quer que o prenda no calabouço?

Rei
Não! Não é necessário. Eu já sei o que farei. Eu o demito, Bobo! Mentiu para mim. Então não te quero mais aqui, na parte VIP do palácio. Não quero mais ouvir piadas suas!

Mª Chique-chique
Mas então, quem vai contar para o senhor?

Rei
Se ele tirou as anedotas do livro, então, como possuo muitas riquezas, posso muito bem comprar vários desses livros de piada. Não precisamos mais de um Bobo para nos fazer rir. Cada pessoa do castelo, terá um livro desse.

Pastelão
(Para o Bobo) É o castigo do rei. Bem feito!

Entra o guarda Batata

Batata
Teu nariz está mau feito!

Mª Chique-chique
Mas... mas... meu rei, se o senhor fizer isto... o bobo não terá mais ninguém para contar piadas. Pois todos terão acesso ao livro e poderão le-las a hora que quiserem.

Rei
Como o guarda Pastelão falou, Esse é o castigo do rei...

Pastelão
Bem feito!

Batata
Seu nariz está mal feito!


Rei
(Depois de se recuperar pacientemente da inconveniência dos Guardas) Como eu estava falando, esse é o castigo do rei...

Pastelão
Bem feito!

Batata
Teu nariz....

Rei
Calem-se!! Ora, Bolas! Como estava dizendo, esse é o castigo do rei... (Pastelão e Batata falam sem emitir som algum) por mentir e enganar o seu rei. Por me fazer de Bobo. Se tivesse, pelo menos, Ter falado a verdade... poderia ser bem diferente. Guardas. Levem-no para o olho da rua!!

Pastelão e Batata
Sim, senhor, senhor!

Cena 3

“E alguns dias foram passando, e todo mundo do castelo tinha o seu próprio livro de piadas, ninguém mais precisava do Bobo da corte para fazer rir. Era só pegar o livro, abrir e ler. O Bobo, em determinada parte do castelo, até que tentava contar e era logo interrompido. Pois as pessoas queriam saber é do livro, isso sim! Liam antes de dormir, no trabalho, no banheiro, com a família, na hora do almoço, a qualquer hora e em qualquer lugar. Com o livro era bem melhor. Podiam levá-lo na bolsa, na mão... o bobo não tinha mais utilidade no castelo, e por isso estava triste, muito triste”.

Mª Chique-chique entrando num humilde cômodo, que é toda a casa do Bobo.

Mª Chique-chique
Oi Bobo.

Bobo
(triste) oi...

Mª Chique-chique
Puxa, Bobo. Você está tão triste. Também... ninguém mais quer saber de você. Só querem saber do livro de piadas.

Bobo
Sabe, Mª Chique-chique?! Eu não sei mais o que faço. Já não tenho mais utilidade para nada. Pois tudo o que eu gosto, é de fazer os outros sorrirem, felizes. E já não posso mais.


Mª Chique-chique
É... amigão. Agora quem está precisando sorrir é você, ein.

Bobo
Eu nunca mais vou conseguir sorrir. Só se alguém sorrir com o que eu fizer. Mas todos já sabem o que eu vou fazer e isso já é sem graça, entendeu?

Mª Chique-chique
Mais ou menos... mas... uma coisa eu sei. Eu sou sua amiga, e vou te ajudar. Porque amigos são para compartilhar os momentos felizes e ajudar nos momentos difíceis. E também para dar soluções diante dos problemas.

Bobo
Você é a minha única amiga.

Mª Chique-chique
Mas você poderá ter mais amigos, se você fizer o que eu vou te falar.

Bobo
Fazer o que? Eu acho que pra mim não tem mais jeito, não...

Mª Chique-chique
Deixa de ser Bobo,... Bobo. Pensa comigo. O que eu estava pensando mesmo... Há, lembrei. Se todos aqui do castelo tem o livro de piadas que o senhor lia, e depois dizia para todos que era de sua inteira criação, então?!

Bobo
Então, o que?

Mª Chique-chique
Por que você não cria alguma coisa?

Bobo
Criar?

Mª Chique-chique
É! Por que você não inventa alguma piada engraçada. Por que você não começa a escrever uma história para todo mundo ler e ser feliz?

Bobo
Mas eu não sei se irei conseguir...

Mª Chique-chique
Mas você é bobo mesmo, ein. Se você quer algo, você consegue. Na vida, a pessoa tem que sonhar, e querer realmente realizar aquele sonho. Lutar, se empenhar o máximo, tentar muito. E um dia, consegue o que sempre sonhou. Mas tem que dar o primeiro passo.

Bobo
Sabe, Maria. Você tem razão. Eu vou tentar bolar alguma piada. Vou mesmo!

Mª Chique-chique
Vai sim. Se você realmente quer, você consegue!

Bobo
(Da algumas piruetas de felicidade). Maria, obrigado pela sua ajuda, pela sua idéia. Você é mesmo a minha amigona.

Mª Chique-chique
Eu gosto de você, Bobo. Mas se você tivesse me contado no início que o livro de piadas era seu, eu jamais entregaria ao rei.

Bobo
Fiquei com medo que todos ficassem sabendo que eu utilizava as piadas do livro, por elas não serem na realidade, minhas, entende?

Mª Chique-chique
Sim. Mas viu só?! A mentira o que faz?! Se não mentisse, nada disso teria acontecido. O certo, Bobo, é sempre falar a verdade, falar o que sente no coração, e o que acha, sem medo. Mesmo se a situação for muito difícil, é melhor falar a verdade, do que se esconder atrás de uma mentira. Porque senão ninguém vai passar a acreditar em você!

Bobo
(Abraçando Mª Chique-chique) Obrigado. Sei que realmente posso contar contigo. Mas só tem uma coisa.

Mª Chique-chique
E o que é?

Bobo
Eu vou escrever, sim. Vou realizar um sonho que adormeceu no meu passado. Mas não vou ficar mais aqui no castelo, aqui ninguém precisa mais de mim.

Mª Chique-chique
Como não?

Bobo
Aqui, no palácio todos tem o livro. Eu vou é fazer o povo sorrir, pois lá, a grande maioria deles, não sabem ler e nem escrever.

“O Bobo, começava a escrever suas próprias idéias, suas próprias piadas, e estava se sentindo cada vez melhor. Ria sozinho do que escrevia. Estava se sentindo cada vez melhor, pois acreditava que certamente voltaria a fazer muita gente a sorrir, a ser feliz...

Cena 4

...Mas no palácio, aonde o rei estava, todos riam muito, menos o próprio rei...”

Pastelão lendo o livro, sorria sem parar. O rei com um ar de curioso.

Rei
Conte-me! Conte-me essa piada para que eu possa rir também.

Pastelão
(Entre gargalhadas) Desculpe-me, majestade... espere um pouco, tenho que respirar um pouco... ai, ai... é assim: Um americano, chamado Joaquim, invadiu um castelo, o próprio castelo e... eu não agüento... eu não aguento... o próprio castelo e...

Rei
E???

Pastelão
E... ele olhou para um lado e depois para o outro e... eu não agüento... me desculpe meu rei. Mas eu vou até o banheiro...

Pastelão sai.

Rei
Mas que diacho. Ninguém me conta a piada toda. Todos ficam só sorrindo, sorrindo e eu fico sem saber da piada, droga!

Entra o guarda Batata

Batata
(sorrindo) Majestade, esse livro é demais... eu adorei.

Rei
Então eu ordeno que me conte uma piada, que leia para mim. Agora!

Batata
(Sério) Sim, senhor.

Rei
(a parte) Até que enfim um vai me contar sem rir.

Batata
Um ladrão estava pronto pra entrar em um palácio, mas avista uma placa escrito “cuidado, papagaio!” (e começa a rir)...


Rei
E aí? E aí?

Batata
(Já entre poucos risos) Ele caminha mais um pouco e outra placa “Papagaio perigoso!” (e mais risos)

Rei
Continua! Continua!

Batata
(Entre risos) O ladrão estava achando que aquilo era uma gozação, pois afinal, existem placas com “cuidado, cachorro feroz!” e não com papagaio... (e mais risada).

Rei
Vai... não para... continua...

Batata
Ele abre a porta e vê o papagaio (sorri mais ainda)

Rei
E?...

Batata
(Em meio a risada) E o papagaio diz assim, olhando para o ladrão... (e cai na gargalhada, que não consegue mais se segurar) E ele diz assim... (E mais gargalhada) Me desculpe, vou ao banheiro, não agüento...

Batata sai.

Rei
Que Droga!! Logo no final! Como posso sorrir também? Que porcaria! Ninguém me conta uma só piada. Se ao menos eu soubesse ler... só eu que não sei ler nesse castelo. (Triste) Eu nunca quis saber de aprender as coisas, de estudar quando podia...

Entra Mª Chique-chique

Mª Chique-chique
(reverenciando) Vossa majestade.

O rei faz gestos, expressando de que ela pode entrar.

Mª Chique-chique
Meu rei, todos no castelo estão sorrindo sem parar. Nunca vi este povo do palácio tão sorridente.


Rei
(tristonho) É, eu sei...

Mª Chique-chique
Meu rei, só o senhor não está satisfeito. Por que, não gostou do livro?

Rei
Estou detestando este livro e todos os livros da face da terra!

Mª Chique-chique
Mas... não estou entendendo. Se foi o senhor mesmo quem comprou para todos o livro de piadas...

Rei
Eu preciso contar para alguém. Sabe o que é Mª Chique-chique?

Mª Chique-chique
Não, não sei o que é, rei Choxudo.

Rei – É que... eu não sei ler.

Mª Chique-chique
Não sabe ler?

Rei
Não! E ninguém lê para mim. (Desabafa e chora) Eu peço, ordeno e ninguém me conta, só sabem rir, rir, rir e rir.

Mª Chique-chique
O Senhor não sabe ler?

Rei
(Severo) Você é surda, mulher? (Chorando nos ombros de Mª Chique-chique) Só você que sabe disso, por favor, não conte nada a ninguém. Se não vão é rir de mim também.

Mª Chique-chique
É por isso que está tão triste?

Rei
(severo) E por que seria? (Chorando) É sim! É sim! Todos sabem ler e escrever, só eu que não sei. Como posso ler o livro e ficar feliz?...

Mª Chique-chique
Mas... meu rei, foi o senhor que dispensou o Bobo, e resolveu comprar os livros, não foi?!



Rei
Eu sei! Eu sei! Se ele estivesse aqui, ele me contaria as piadas do começo ao fim, fazendo caras e bocas, sem parar para rir ou... ir ao banheiro.

Mª Chique-chique
(Carinhosa) Meu rei choxudinho. Não fique triste. Por que o Senhor que tem, muito, muito, muito dinheiro, não contrata uma professora para te ensinar a ler e a escrever?

Rei
Mas eu não quero que ninguém saiba. A professora poderia contar para todo mundo. E também a minha mulher, a rainha, poderia ficar com ciúmes e me bater.

Mª Chique-chique
A rainha também não sabe? Mas se o senhor contasse para ela?

Rei
Nunca! Nunca! Ela me chamaria de burro!

Mª Chique-chique
Tá difícil. O senhor está que nem o Bobo. Omitindo a verdade. Isso também é o mesmo que mentir, sabia disso?

Rei
Eu sei. Mas é que uma coisa foi levando a outra e acabou nisso.

Mª Chique-chique
Caramba, então contrate um professor!

Rei
Seria pior ainda!

Mª Chique-chique
Por que?

Rei
Se tivesse algum professor, também poderia contar para todo mundo do palácio.

Mª Chique-chique
Por que se tivesse?

Rei
As professoras, são casadas com outros profissionais, que levam o dinheiro para casa. Mas os professores... mudaram de profissão, para poderem sustentar suas famílias. Pois com o que eles ganham... mal dá para sobreviverem.

Mª Chique-chique
Mas que coisa feia, Rei Choxudo! Isso é muito desumano.
Rei
Viu como não tem mais jeito?

Mª Chique-chique
Também, o senhor fez a obra completa! E ainda mandou o Bobo embora. Sabia que o coitado estava também muito triste, depois que o senhor fez aquela maldade com o ele?

Rei
Mas foi o castigo do rei...

Entra pastelão

Pastelão
Bem feito!

Entra Batata
Teu nariz está mal feito!

Rei
Saiam daqui! Imediatamente! Saiam!

Os dois saem

Rei
Esses dois...

Mª Chique-chique
Majestade, sabe o que eu acho? Que vocês dois... um sem o outro não é nada!

Rei
Mª Chique-chique, pede para o Bobo voltar para ele me contar as piadas do livro. Diz para ele que eu não brigo mais, não. E da próxima vez, só comprarei os livros, novos, para ele. Aí tudo volta ao normal.

Mª Chique-chique
Agora?

Rei
O que é que tem agora?

Mª Chique-chique
Eu não sei não...

Rei
O que você não nabe?


Mª Chique-chique
Sabe de uma coisa, meu rei? O senhor também, só faz as coisas pensando só em você. Mandou o Bobo embora, o coitado sofreu feito um cão sarnento, e agora quer ele de volta.

Rei
Não é bem assim. Mas, está certo, eu errei, por favor, eu vou pedir desculpas à ele.

Mª Chique-chique
Só porque o senhor precisa. É do teu interesse, não é?

Rei
É. Mais vai ser para ele também. Por favor, eu vou mudar, prometo! Prometo!

Mª Chique-chique
Eu não sei não...

Rei
(Desaba chorando) Eu vou morrer, de tanta tristeza... eu quero o Bobo! Por favor Mª Chique-chique trás o Bobo de volta, por favor por favor.

Mª Chique-chique
(Comovida) Está bem! Está bem, meu rei! Mas por favor, pare de chorar, eu não posso ver nenhum homem chorando, isso me parte o coração. Eu vou ver o que posso fazer. Mas o senhor meu rei, tem que me prometer que vai mudar, e vai passar a se preocupar com as outras pessoas.

Rei
(Sorridente, Abraçando e beijando Mª Chique-chique) Prometo! Tudo bem! Obrigado Mª Chique-chique, obrigado, obrigado.

Cena 5

“O Bobo, está em uma mesa, cheia de folhas, pra tudo o que é lugar, Ele continua escrevendo “sem parar”, e sorri muito”.

Mª Chique-chique
Oi, Bobo. Posso entrar?

Bobo
(Continuando a escrever) Oi, Mª Chique-chique. Entra.

Mª Chique-chique
Vejo que está fazendo aquilo que te falei. Está escrevendo as suas próprias piadas.

Bobo
Estou fazendo coisa ainda melhor.
Mª Chique-chique
Como assim?

Bobo
Estou fazendo uma história cheia de comédia. Cheia de coisas engraçadas.

Mª Chique-chique
Olha, que legal. Viu, não te disse que você conseguiria? Era só começar e pronto.

Bobo
Obrigado, Mª Chique-chique. Você é demais.

Mª Chique-chique
E... quando você terminar, vai mostrar a corte? Vai mostrar ao pessoal do castelo?

Bobo
Não!

Mª Chique-chique
Não?

Bobo
Pensei em coisa melhor.

Mª Chique-chique
E em que foi que você pensou?

Bobo
Vou para a rua. Afinal o rei me mandou embora. Vou mostrar para o povo. Sim, para o povo pobre. Vou dar para eles, pelo menos um instante, para esquecerem dos problemas, dos seus sofrimentos e poderem sorrir um pouco. Se divertirem.

Mª Chique-chique
Puxa, que legal!

Bobo
Vou mostrar o meu teatrinho para o povo que não tem dinheiro nem para comprar comida, roupas.

Mª Chique-chique
Eles também nem tem dinheiro para aprenderem a ler e escrever, não é?

Bobo
É isso o que farei. Um teatrinho para o povo pobrinho.

Mª Chique-chique
Muito bom, Bobo da corte...
Bobo
Agora eu sou: “o Bobo do povo”.

Mª Chique-chique
Fico muito contente por você está feliz. E muito orgulhosa de você.

Bobo
E eu, felicíssimo. Só fico imaginando eu, podendo fazer com que o povão fique feliz, mesmo que seja por alguns instantes.

Mª Chique-chique
Mas você pode também mostrar ao rei...

Bobo
De jeito nenhum! Ele me deu um chute no bumbum, lembra?

Mª Chique-chique
Bobo...

Bobo
Mª Chique-chique... o rei é muito egoísta. Só pensa nele, só nele e pronto. Ele não quer saber dos outros, não. Do povo com fome, de mim, de ninguém!

Mª Chique-chique
Isto é...

Bobo
Pois eu vou pra galera. O rei que fique lendo os livros de piadas que ele comprou com o dinheiro dele!

Mª Chique-chique
O rei não sabe ler.

Bobo
O rei não sabe ler? (Cai na gargalhada) Essa piada é muito boa! O rei não sabe ler...

Mª Chique-chique
Não é piada, é verdade. Ele me contou. É o único dentro do castelo que está triste.

Bobo
Então o rei comprou os livros e... não saber ler?! Mas... alguém deve ler para ele...

Mª Chique-chique
Aí é que está. Todos só sabem rir, rir, rir e rir. Mas ninguém consegue contar a piada para o rei. O rei é o único que não ri. Só não conta para ninguém, meu amigo. Ele me pediu segredo.

Bobo
Tudo bem... Mas o rei é o coisa e tal...

Mª Chique-chique
Ele está pedindo para você voltar e contar as piadas do livro para ele.

Bobo
É?...

Mª Chique-chique
E ele vai te pedir desculpas.

Bobo
É?...

Mª Chique-chique
E só você receberá os livros novos.

Bobo
É?...

Mª Chique-chique
E ele me pediu chorando. Puxa Bobinho, ele estava tão tristão, mas tão tristão, que me deu até peninha. E então, a sua resposta...

Bobo
É... Não!!!

Mª Chique-chique
Não??

Bobo
Não!! Ele pensa que é o dono do mundo. O que ele quer, é o que tem que ser. Que com o dinheiro dele, que vem do povo paga os impostos, ele pode fazer e acontecer.

Mª Chique-chique
Isso é... Mas ele pode ficar doente...

Bobo
Que o dinheiro dele o cure! Eu não volto mais lá!

Mª Chique-chique
Isso é muito orgulho da sua parte!




Bobo
Não é não Maria. Para ele conseguir o que quer, até chora, esperneia, abre o berreiro, bate a porta, fica nervozinho, xinga, bate, eu não volto lá! Isso é chantagem do rei. Eu sei muito bem!

Mª Chique-chique
Bobo, eu também conheço o rei. Ele tem muitos defeitos. Mas eu nunca vi o rei tão triste como estava...

Bobo
A resposta é não, não e não!! Agora eu vou escrever mais um pouco e amanhã eu termino a minha história. E aí poderei mostrar ao povo.

“O Bobo volta a escrever, ...

Cena 6

... O rei ficava sentado em seu trono, sempre triste. E os dias iam passando, passando, passando. E todos do castelo continuavam sorrindo por todos os cantos. Mais livros chegavam ao castelo e cada um pegava o seu. E o rei continuava muito, muito triste. Até que um dia, veio um dos soldados e lhe deu uma notícia”.

Pastelão
Senhor rei!!

Rei
Ai, que susto, idiota!! O que foi?

Pastelão
Íh!! Desculpa aí ó! Mas é que tenho uma notícia de primeira mão para dar ao senhor.

Rei
Que notícia, Guarda Pastelão?

Pastelão
É sobre o Bobo, senhor!

Rei
Bobo?! Ele está aí? Fale logo Pastelão!

Pastelão
Não majestade. Ele está na rua fazendo o povo sorrir.

Rei
O povo? Sorrir? Como? E eu aqui?

Pastelão
O senhor eu não sei. Mas o Bobo está na rua fazendo uma espécie de... “teatrinho”.

Rei
Teatrinho? E eu? E eu?

Entra o guarda Batata.

Batata
Rei!!

Rei
Ai, que susto!! O que foi idiota?

Batata
Ih, desculpe aí, ó! Mas é que tenho uma notícia de primeira mão para dar ao senhor.

Rei
É sobre o “teatrinho” do Bobo na rua...

Batata
(Curioso) E como o senhor sabe? O senhor estava lá, é?

Pastelão
Sua notícia chegou atrasada, guarda batata. Eu cheguei primeiro.

Batata
Também, colocou o pé para eu cair no meio do caminho, né Pastelão?

Pastelão
Se você não tivesse me empurrado antes para poder ver primeiro o Teatrinho.

Batata
Eu te empurrei porque você me bateu, e bateu forte, e doeu.

Pastelão
Eu só te bati porque você não queria me contar o que estava pensando naquela hora.

Batata
E eu só não te contei porque você estava me sujando todo de barro

Pastelão
Eu só te sujei de barro porque eu sou mais bonito do que você.

Batata
Você só é mais bonito do que eu porque...

Rei
Chega!! Chega!! Chega!!

Pastelão
Viu?

Batata
Viu, você!

Pastelão
Não! Viu você!

Viu, você!...

Rei
Eu já disse...

Pastelão e Batata
Chega!! Chega!! Chega!!

Rei
Isso... eu mereço...

Batata
Majestade, devemos acabar com teatrinho?

Pastelão
Majestade, devemos acabar com o Bobo?

Batata
Majestade, devemos acabar com o Povo?

Pastelão
Majestade, (pensa) devemos acabar também com o castelo?

Rei
Não!! Eu ainda vou pensar no que vou fazer.

Batata
O senhor quer a minha ajuda?

Pastelão
Não. O senhor quer a minha ajuda?

Batata
Não, senhor. A minha! (Dá um chute no bumbum do Pastelão)

Pastelão
O rei vai querer a minha ajuda! (Dá um chute no bumbum do Batata, que cai no chão. Pastelão então o suspende pelas calças...)

Rei
Ai, ai, ai, caramba!! Não quero ajuda de ninguém! Pastelão então larga o batata pelas calças que o faz cair de novo).

Batata
O senhor, quer um copo d’água/

Pastelão
Um suquinho?

Batata
Uma vitamina, uma coca-cola, um leitinho quentinho, um chocolate quente, um cafezinho, um sorvete então, um sundae... ein?! (para o Pastelão) Não deixei nada para você.

Pastelão
Tenho uma idéia melhor. Rei Choxudo, por que o senhor faz como antigamente, não dá uma grande festa, com tudo o que tem direito, muita comida, muita bebida, muita moça bonita...

Batata
Se você não deixar o Rei em paz eu vou... eu vou...

Pastelão
Vai o que, ein?!

Batata
Fazer isto! (Joga uma torta na cara do Pastelão)

Pastelão
A é? A é? Então... (Joga outra torta na cara do Batata) toma isto!

Batata pega um saco de penas e joga em cima do Pastelão. Pastelão pega um saco de confetes e joga em cima do Batata. O rei se mete entre os dois.

Rei
Vocês dois, o que estão fazendo?

Pastelão
Tua cara está suja, vou te lavar agora!!

Batata
E eu a sua!!

Batata e Pastelão pegam, cada um o seu balde e jogam um contra o outro, com o Rei entre eles.

Rei
Nããããooo!

Pastelão
Ué? Cadê a água que estava aqui? Alguém bebeu?

Batata
No meu também sumiu! Vai ver... com o calor, evaporou.

Rei
Calem a boca! Sumam daqui! Desapareçam! Eu preciso pensar um pouco. Já sei, o que posso fazer para me divertir.

Pastelão e batata
O que, majestade?

Rei
Se vocês não saírem daqui imediatamente, mandarei enforcá-los. Isso será muito engraçado.

“Os dois guardas, diante da notícia que o rei declarara, não sabiam o que faziam: Iam de um lado para o outro, pulavam, se mexiam todo, e por fim desapareceram”.

“E o rei ficou muito pensativo... muito pensativo...

Cena 7

... Na rua, o Bobo de máscara, com um auxiliar vestido de palhaço, faziam o povo rir. A multidão que assistia ao espetáculo, se divertia muito. O Bobo hora era um homem sério,
Hora era um grande armador, e o seu auxiliar, hora era um palhaço, hora se fazia de mulher. E o povo caia na gargalhada.
Durante a apresentação, um homem todo coberto com roupas velhas, e se enfia no meio do povo. E a peça continuava, e todos continuavam rindo, principalmente o homem coberto de trapos. Só que em determinado momento, esse homem, ria tanto, ria tanto, tanto que sem perceber, o pano que lhe cobri a cabeça caiu, mostrando sua cabeça com a coroa. O povo todo parou e ficaram olhando para o tal homem, que não parava de rir, parecia uma criança. Até o Bobo e seu auxiliar pararam com a apresentação, surpresos com o que estavam vendo. Abriu-se uma roda em volta do homem, ficando descoberto a identidade. Era o rei, que não parava de rir.

Um cidadão
Olha é o rei!!

Outro
O rei disfarçado de pobre!!

Outro
O rei junto com a gente!

Outro
O que será que ele faz aqui? Ficou pobre?

Outro
Impossível, ele está com todo o nosso dinheiro.

Outro
O dinheiro da comida de nossos filhos./

Outro
Ele é muito malvado! Faz a gente sofrer!

Outro
E ele fica no palácio com tudo o que tem direito!

Outro
Só pensa nele!

Todos
Só pensa nele! Só pensa nele! Só pensa nele!...

Bobo
Calma!! Calma, Gente!! Deixem o rei falar! Deixem o rei falar!

Rei
(assustado) Eu... eu...

Bobo
O senhor?...

Rei
Eu estava de passagem, aí...
Aparece a Mª Chique-Chique

Mª Chique-Chique
Majestade, o senhor não aprendeu? E isso serve para todos aqui! Mentir é feio, Nunca se deve mentir pra ninguém. Muito menos para quem nos ama, para quem nos quer bem. Nossos pais, irmãos, amigos, pra ninguém, entenderam? E então majestade?



Rei
Você está certa Mª Chique-Chique, isso irá me doer um pouco, mas eu digo a verdade. Eu estava muito triste no castelo. Mesmo tendo tudo. Mas eu não tinha pessoas, nenhum grande amigo do meu lado. Eu não tinha você Bobo, que me fazia tão bem, me fazia ficar feliz. Alegrei a todos no palácio com os livros, mas eu não sei ler... (Todos ficaram surpresos com tal declaração) Então fiquei sabendo do teatrinho aqui, resolvi me disfarçar de pobre, para poder me juntar ao povo e poder sorrir também. Estava precisando tanto ser feliz um pouco, de novo...

O povo
E a gente??

Rei
Vocês?... Vocês?...

O povo
Sim! E a gente?

Mª Chique-Chique
Majestade, Só o senhor que pode ser feliz? Todos nós aqui, também queremos ser felizes. O senhor não sabe o que é passar fome, frio, não ter nada em casa. O senhor me prometeu que iria mudar, e a hora é essa!

Bobo
O senhor, vai se sentir muito mais feliz, se fizer que nem eu, fazendo outras pessoas felizes. É muito melhor do que ouvir piadas.

Rei
Mas o que vocês querem que eu faça? O rei é quem manda. Foi assim que eu aprendi. Falaram para não ligar para o povo...

Mª Chique-Chique
Te ensinaram errado! Temos que nos preocupar com todas as pessoas, principalmente as necessitadas.

Bobo
Pois é! Por isso, não deve explorar tanto o povo com impostos! E tem que dar comida a quem tem fome...


Mª Chique-Chique
Dar roupa a quem tem frio...

Bobo
O senhor fica triste, os outros também ficam. O senhor sente frio, os outros também.
E tem mais, o senhor depende de todos nós aqui, assim como cada um de nós, precisa do senhor.

Rei
E então, que eu posso fazer?


Mª Chique-Chique
Pra começar, O Bobo pode te ensinar a ler e a escrever. E o senhor deve dar condições para o povo também saber ler, escrever e Ter acesso aos livros.

Rei
(Animado) Tudo bem.

Mª Chique-Chique
Dar comida ao povo, cuidar da saúde de todos, e também roupa.

Povo
É!

Bobo
E já que o senhor gosta tanto de sorrir, e sabe a importância disso, fará o povo sorrir também, e viver felize com o rei que eles tem.

Povo
É!

Mª Chique-Chique
Será um rei choxudo, bonzinho e querido de todos nós.

Povo
É!

Rei
Está bem! Serei bom com todo mundo!! Quero todo mundo feliz no meu reino!!

Povo
Viva o rei Choxudo! Choxudo! Choxudo!...



Fim

e-mail: mcs.braga@hotmail.com